Chuvinha
Chove. Três e quarenta da manhã, a água não hesita em se
lançar pra todos os lados com a ajuda do resquício do vento que não deu as
caras durante o dia e há boas passagens se foi. Os pisos externos são inundados e
se for pensar bem, apesar da poluição do ar inibir possibilidades de
higienização, eles estão até sendo limpos. Bem que o Giovanni disse que a
previsão em São Paulo era de chuva. Eu só iria descobrir quando acordasse. Mas
não consegui dormir até agora. Não foi culpa minha. Acho que o Eno foi mais
eficaz na desrregulagem do horário do que no ajuste do bem-estar estomacal. Agora, só penso no que não deveria pensar.
"O que se faz quando não se tem o que querer pensar?" Chego a considerar a necessidade de fazer alguma coisa, sei lá, talvez algo típico de alguém que está sozinho. "Mas, o que uma
pessoa sozinha geralmente faz?" Eu deveria saber, afinal passo a maior
parte do tempo divagando sob uma extensão de retiro recorrente. Como alguém que preza a integridade da associalidade na
claustrofóbica fôrma residencial, sentindo-se uma ilha, alimentando a esquizofrenia
que supõem não ter e explorando as paredes mofadas da própria loucura. É que às
vezes a vida de gente normal não é nada interessante, né? Porquê, eu não sei.
Tanto faz, tanto fez, mas os cigarros já deixaram de ser uma opção agradável - inclusive seria tedioso pois poderia me
fazer recordar do trabalho, no fim do expediente, na cerveja, nos papos sem
importância, nas coisas que a gente faz pra provar que está vivendo como ditam
as regras sociais: o tipo de coisas que influenciam minha vontade de estar
sozinho em casa. "Será que eu to dormindo?" E não é que tá chovendo
mesmo?!