Marca
Quantas palavras eu não precisei
dizer, antes que você decifrasse tudo o que não esperava tão cedo dizer-lhe...
Quem soube onde estiveram essas
verdades todos estes anos em que vivi mentindo para o meu coração e, sem saber,
sofrendo por querer.
Quantos gritos eu ainda estaria
disposto a ouvir ecoar pelas paredes escuras no meu quarto, solitário, antes de
perceber que você não os pode ouvir...
Ainda que eu estivesse cego pelo
sofrimento, não poderia suportar viver em recorrente angústia, sabendo que
estaria de mim desacompanhado por todas as noites nestas ruas iluminadas.
Não é tempo de distração. Eu
apenas digo as palavras certas quando ouço o som lunar de um escritor a cantar,
recitando o poema: ama-me da forma que eu preciso sentir.
Digo o que devo dizer e é quando
ouço mais uma vez um tom diferente dos que sempre estive ouvindo. Talvez seja
mais simples do que eu imagine, talvez
você estivesse todo este tempo, em vida, matando minha morte.
Quem sabe esteve, você,
permanentemente criando os meus sonhos. Ou talvez sua presença seja tudo
isto... Quem sabe seja um sonho duradouro sem um início.
Seja lá o que for, eu estou assim,
meio calado, meio falante, um pouco disperso e muito decidido a continuar a
contemplar essa visão indescritível, de olhar vivo... enquanto
continuamos ouvindo suas músicas, já tão minhas... Querendo entregar o que
tenho nas mãos do manso acaso, o responsável por estares aqui. Sem dizer mais do que
você poderia esperar e tudo o que antes jamais ouvira. “Quem sabe esteja acontecendo...”
Seria muita felicidade. Seria, e
assim sendo, as vidas finalmente tornam-se possíveis após o encontro.
Pergunto-me, será que eu tenho de
provar o quanto isto significa?
Importar-me-ia menos estar inanimado em
meio aos pequenos seres rasteiros, ao som do vento a mover
folhas de outono -, tão somente antes de qualquer detalhe
insignificante, se sua vida estivesse assim como a minha; viva, plenamente
posta e proposta à sua espera, repleta do calor que preencheria os espaços dos
laços em teus braços, antes e logo após o mesmo encontro.
As marcas em árvores sempre
existiram. No mesmo interesse permanecem em claros tons. Lembranças e rufares
de quem conhecemos apenas os nomes. É como a infanta ideia de uma aliança...
Algo eternizado. eterniza-dor: que persiga-nos inúteis rituais. Então, por onde
viria o esperado de botas, todo em vermelho sangue, qual eu chamei de amor?
Estaria distante onde estou e
insistindo em querer o "não ser", por estar certo ou decidir, sempre
será inerente ao que irá suceder? Estou pensativo. E por quanto tempo mais?
Frio e pouco calmo.
Sendo que em minhas mãos estão as
mesmas armas carregadas de novas munições e só o que importa é desarmar-nos,
seria um erro insistir em apertar o gatilho?
Dentro de uma exata complexidade
que experimentei, num caminho estreito por onde com dificuldade sigo fundos
passos de algo que desconheço quem diria que poderia chegar ao topo da montanha
neste fim de início e começo de parada, para repousar em um peito que me
excita...
Tudo o que já foi superado ainda
soa como canção, mas minha letra mudou e a sintonia vibra em embalos no seu
diferente ritmo.